quinta-feira, 25 de novembro de 2010

tia

ela me dizia, quando abria a porta: "ói ela, com as calças do pai dela!"; ela falava que eu me chamava noemi porque quando eu nasci, meu pai, que queria muito um menino, teria dito: "no é minha"; ela batia toddy quente no liquidificador, antes de nós irmos para a escola. punha num copo comprido, que ficava cheio de espuma na borda. do bife dela eu não gostava, porque ela batia muito e fritava com alho; ela era bem mais jovem e antenada que minha mãe; era brasileira, estudada, e não estrangeira, o que me dava uma ponta de inveja da minha prima; ela era brava e ao mesmo tempo engraçada; se pintava muito e a cara ficava cheia de pó de arroz; tinha uma casa chique, cheia de quadros e móveis diferentes, com degraus na sala e uma copa acarpetada, com as paredes forradas de madeira. hoje ela morreu e eu só guardo dela o passado. quem era ela, além de minhas memórias? não sei, nunca vou saber.

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