quinta-feira, 28 de junho de 2012

conjunção

em literatura, não suporto conjunções. como elas exercem descaradamente a função de encadear pensamentos lógicos, elas sempre acabam se tornando muletas, atalhos para facilitar um caminho que, dito de outra forma, seria mais belo. por exemplo: "conforme o cartaz, a casa estava à venda". a palavra "conforme" introduz o mundo dos formulários na narrativa e corta o caminho concreto, aludindo a uma conjectura. conforme, na verdade, não é nada. não é muito melhor, no lugar dessa frase terrível, dizer algo como: "eu queria comprar aquele sobrado"? e no lugar de "embora cansada, ela foi à festa", não é melhor dizer "ela foi a festa morta de cansaço"? afinal, o que é embora?

2 comentários:

  1. por outro lado, as conjunções, justamente por não significarem nada, muitas vezes ficam bonitas quando bem encaixadas na frase. como se elas denunciassem um lapso da linguagem, que está sempre querendo se referir a alguma coisa externa, mas de repente se pega dirigindo-se para si mesma. adoro, por exemplo, "no entanto". olha que bonito: no-en-tan-to. parece que, por não ser nada de verdade, de repente nos revela o nada todo que as palavras são.

    ResponderExcluir
  2. em literatura, pra mim, as palavras dizem como gente é - cru, sem casca, ou com a casca suja como é, caída do pé. por isso dá pra usar todas elas, já que há tanta gente por aí.

    ResponderExcluir