quinta-feira, 28 de março de 2013

é

para escrever melhor, praticamente eliminar o uso do verbo ser. no lugar dizer "a vida é difícil" ou "criar um filho é uma tarefa nobre", dizer: "o lençol nunca cabe na cama" ou "para doralice, com seu juninho, só faltava um trono". procurar escrever frases com o mínimo de verbos: "sem lençol para as camas" e "para doralice, com seu juninho, só um trono". quanto menos verbos, mais concretude, mais substância, mais concisão, menos explicação.

segunda-feira, 25 de março de 2013

fisofolia

sabe aquela piada do português que, ao ver um amigo carregando um aquário, infere que deve ser um presente para os seus filhos e que, portanto, o camarada é casado e portanto não é homossexual? e, em seguida, ao ver outro amigo passando na rua sem um aquário, infere imediatamente que, se ele não carrega um aquário, é homossexual? pois bem, dizer que quem é contra o racismo, o sexismo e o machismo também é favorável aos direitos dos coprofílicos ( quem faz sexo com fezes) é seguir a mesma linha de raciocínio. isso é o que eu chamo de fisofolia.

apud texto de hoje, vinte e cinco de março, em coluna de um jornal de são paulo.

sexta-feira, 22 de março de 2013

gugu

quando eu era adolescente, gostava da frase: "não chores por ter perdido o pôr do sol, pois as lágrimas te impedirão de ver as estrelas". já mais adulta e por muito tempo, achava, como todos, ridícula a cafonice da composição e bobo o conteúdo conformista da frase. agora, na fase pré-adolescente da velhice, começo a reconsiderar sua beleza. meu deus, será que já velhinha eu vou gostar do programa do gugu?

terça-feira, 19 de março de 2013

corte

se você está preocupado em escrever melhor do que você escreve, comece cortando todas as palavras possíveis e até aquelas aparentemente impossíveis do seu texto. se está preocupado em escrever melhor, comece cortando as palavras possíveis e as aparentemente impossíveis do seu texto. se está preocupado em escrever melhor, corte as palavras possíveis e impossíveis do texto. se a preocupação é escrever melhor, corte as palavras possíveis e as impossíveis. para escrever melhor, corte o possível e o impossível. para escrever, corte.

sábado, 16 de março de 2013

oirásrevina

oirásrevina zilef esse ed atneuqnic e mu. é amu edadi amitó. men mevoj men ahlev. snébarap  arp êcov, ue amsem.

quinta-feira, 14 de março de 2013

para a leda.

uma baleia não existe. toda a não existência - o silêncio, o tempo em si mesmo, as extensões espaciais, a duração, o ritmo, as folhas que caem no outono, a altura das montanhas, a aspereza das pedras, o casco das tartarugas, a periculosidade do tubarão, o trabalho infinitesimal da bactéria, a luz baça de alguém que está quase cego, a sombra de quando anoitece, o pelo dos gatos, a umidade da madeira das árvores, o colar no pescoço de uma mulher na floresta, a cor da pele, o momento de nascer e o momento de morrer, o sono, os sinos tocando nos templos, a água que sai da torneira - está condensada numa baleia. só a baleia é nossa garantia de que tudo isso possa continuar não existindo, para nosso ínfimo consolo.

sábado, 9 de março de 2013

vidro

o babaganuche vem da berinjela; a coalhada, do leite; a farinha,do grão; a cadeira, da árvore; o pensamento, da linguagem; o vidro, da areia; o desejo, da necessidade; o lenço, da seda; o medo, da morte.

quarta-feira, 6 de março de 2013

inspiração

inspire. isso é inspiração. é esse tempo do ar externo inalado pelos pulmões, percorrendo então, lenta ou rapidamente, todas as veias, artérias, músculos e órgãos do corpo, que faz com que intuição, memória, experiência, estudo, prática, disciplina e imaginação se transformem numa ideia. aquela que você estava esperando mas esqueceu que era preciso, para atingir a inspiração, inspirar.

sábado, 2 de março de 2013

babau

perdi uma coisa muito importante. era importante e eu perdi. não estou aprendendo nada com isso. não tenho conclusões a tirar. não vou transformar em ganho. perdi e babau. babau coisa importante.