terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

ferida

para quem, como eu, acreditava e amava o pt, o que está acontecendo agora é uma espécie de ferida narcísica, mais do que uma frustração política. é a dor de ver um sonho pessoal se desfazer. daí, imagino, a indignação humilhada, a impotência, o vazio. para quem, como vários amigos e familiares, nunca acreditou no pt, parece haver certa satisfação intimamente vingadora, uma superioridade discreta de quem diz "não falei, sua sonhadora?", "o mundo não é simples como você sempre quer pensar", "eu sim já sei como tudo é hipócrita e não tem como ser diferente". ou seja, nem os que acreditavam e nem os que não acreditavam estão fazendo alguma coisa com seu sonho desfeito ou seu pesadelo confirmado. tenho pensado que o necessário é agir com e na derrota do sonho, encarar a importância de viver politicamente sem um sonho, que talvez seja a melhor forma de ação, se não política, ao menos social. ainda amargo o narcisismo supurado, mas algo acena, no fundo da ferida, para uma realidade mais gregária.

3 comentários:

  1. Belíssimo texto.Garimpando bem na internet achamos ouro."Quando nada está acontecendo" é ouro. Na política brasileira , o muito que está acontecendo fere a todos, até aos céticos.Importante é fazer " algo com ...sonho desfeito ou o pesadelo confirmado". Ouro.

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  2. Me enterrem com os trotskistas
    na cova comum dos idealistas
    onde jazem aqueles
    que o poder não corrompeu
    me enterrem com meu coração
    na beira do rio
    onde o joelho ferido
    tocou a pedra da paixão
    (Paulo Leminski, Para a liberdade e luta)

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