domingo, 29 de novembro de 2015

natal

nunca canta parabéns a você nas festas. acha ridículo. na hora do rá tim bum, então, quer vomitar. a mãe usa blusa e sapato combinando e ela tem vergonha. entrar em shopping, nem pensar, muito menos no natal, quando todos os patéticos saem às ruas com seus cachorros. amigo secreto de firma?! a própria palavra firma?! nojo. nas fotografias, o olhar desconfiado. não sorri para fotos; é falso. tirou todas as máscaras e só sobrou a verdade mais verdadeira. dúvida: será fingimento chamar o paulo para uma cerveja?

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

psicanálise dois

hipótese dois: suponhamos que alguém sonhou com um grande macaco e, ao relatar o sonho, refere-se a ele como um grande mico. um psicanalista que interpretasse essa fala como um "mico", algo que deu errado, um medo que a pessoa tem daquilo com que sonhou ou a que o macaco está ligado:
um) está com um delírio hiper-interpretativo
dois) está certo
três) está se apropriando da imaginação alheia como se fosse seu território
quatro) tem, no mínimo, uma legitimidade semântica e merece consideração
cinco) confunde língua e linguagem
seis) desrespeita a inocência do símbolo e da pessoa.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

um

-  uma sopa de abóbora
- um copinho de pinga
- um picolé de tangerina rochinha
- uma fatia de queijo minas
- uma xícara de café tipo casca de ovo com  café bem quente
- um ventilador na velocidade dois
- os pés na banheira
- tônica na geladeira
- uma nota de cinco na calça

sem saber, você salvam o mundo.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

psicanálise

hipótese mais ou menos ficcional: digamos que eu sinta vontade, por exemplo, quando vejo um garçom guardando as mesas de um restaurante,  de ajudá-lo. digamos que conte isso para minha terapeuta, que, por sua vez, interpreta esse desejo como uma forma que ela reconhece repetidamente, em mim, de sempre querer agradar os outros, mesmo desnecessariamente. o que isso significa? 1. ela está certa e os desejos de ajudar sempre têm uma camada subliminar escusa. 2. ela está errada e meu desejo de ajudar é preocupação genuína com o outro. 3. ambas estamos certas. 4. essa interpretação é reducionista e transforma, dogmática e estigmaticamente, um desejo num tabu. 5. a terapeuta é incompetente. 6. por que eu não ajudei o garçom?

sábado, 7 de novembro de 2015

enlatados

matei uma pessoa, mas o assassinato foi com uma arma não letal, um fio de barbante, desses que se compram no supermercado e a pessoa, afinal, nem era tão importante, ninguém vai reparar na sua falta, ele nem conhecia ninguém e ninguém o conhecia e depois eu estava com uma vontade danada de matar uma pessoa, então acho que nesse caso não fiz nada de ilegal, ou ao menos não tão ilegal assim, porque essa pessoa era somente usufrutuário da vida, não exatamente o dono, porque o dono é sempre deus e eu somente desautorizei o usufruto da vida por essa pessoa, ou melhor do ativo "vida" por essa pessoa. eu não tenho ativos desse trust, a vida, sou só mais um beneficiário, que, por uma demanda interna e circunstancial, tirou o benefício de outra pessoa, mas foi só uma vez, um instante, em troca de todo o resto que já fiz nesse benefício, a vida, de todos os outros ativos que já conquistei, não foi nem nada. o morto, agora, é só carne enlatada.