sábado, 26 de novembro de 2016

futuro

o celular me avisa que não tenho nenhum lembrete futuro. mas gostaria de tê-los. gostaria que o futuro me mandasse lembretes sobre como ele terá sido passado. que o futuro sentisse saudades de não ter acontecido ainda. que ele dissesse: não venha agora não, que por aqui as coisas estão complicadas. ou então o contrário: você não imagina como está bom por aqui, aguardo sua chegada ansioso. que ele indicasse o caminho mais longo para eu seguir até chegar nele. ou então que ele se tocasse da sua inexistência e entendesse que, quando ele chegar, ele não será nada. que ele saísse do aviso do celular e ficasse sossegado lá, sem me encher o saco.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

mundo

o mundo é um homem velho que está dormindo. logo logo ele acorda. acorda, mundo. vem uma criança novinha, passa a mão na sua cabeça, o mundo a ergue, sonolento, não entende onde está, que dia é, que horas são. esqueceu. pergunta à criança: em que lugar estou? ela responde: mundo, você é todos os lugares. mas qual é o dia? o dia é você mesmo. o mundo se espreguiça. não gostou de ser ele mesmo o tempo e o espaço. boceja. menina, você pode me fazer um favor? posso sim, mundo. quando der dez para as nove, de uma terça de manhã, você me acorda de novo? preciso tomar um remédio novo. mas hoje não, tá, por favor. hoje ainda vou dormir um pouco mais. a menina concordou.